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quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

ESCOLAS DESTROEM O POTENCIAL DE CRIAÇÃO DOS ALUNOS, DIZ PROFESSOR

Dolabela é criador de programas de ensino de empreendedorismo no país.
Durante palestra em Varginha, ele falou sobre o tema e os erros no ensino.


"O 'cara de sucesso' é aquele que acorda e pensa: só tenho 24 horas para realizar o meu sonho." A frase é do professor mineiro Fernando Dolabela, um dos principais consultores no ensino de empreendedorismo do Brasil. Autor do best-seller sobre o tema "O Segredo de Luísa", Dolabela defende a ideia de que qualquer pessoa pode ser empreendedora, desde que desenvolva seu potencial para isso.
Criador dos maiores programas de ensino de empreendedorismo do Brasil na educação básica e universitária, ele afirma que as escolas, hoje, não formam pessoas empreendedoras, mas ao contrário disso, fazem de tudo para destruir o potencial de criação dos alunos. "O professor não é modelo para as crianças", afirma. Em Varginha (MG) para uma palestra durante congresso do Centro Universitário do Sul de Minas (Unis-MG), Dolabela falou ao G1 sobre empreendedorismo e onde o ensino erra na formação das crianças.G1: Defina o empreendedor.
Dolabela: As características do empreendedor são as características do ser humano. Eu sou muito contra essa ideia de achar que o empreendedor tem uma configuração genética específica, todos somos empreendedores. Ele é só aquele que exerce, dinamiza e utiliza esse potencial humano. Você pode se tornar um grande maratonista, ou tocar piano, bastando exercer o potencial para isso. Então, todo mundo pode se tornar empreendedor exercendo esse potencial que está na espécie [humana]. No caso, o do empreender seria exercer sua criatividade, seu protagonismo, sua capacidade de assumir riscos, sua capacidade de imaginar, descobrir e exercer o seu talento. Em síntese, o empreendedor é alguém que sonha, que concebe o futuro e transforma isso em realidade.

G1: A personagem do seu livro “O Segredo de Luísa”, descobre o empreendedorismo no interior de Minas Gerais, e o interior geralmente é um lugar onde prevalece um pensamento mais conservador. Como ser empreendedor em lugares assim, enfrentando esse tipo de dificuldade?
Dolabela: Eu escolhi [esse cenário] justamente porque as dificuldades são maiores, a tradição é mais impactante e limitante, o contato com a mobilidade e movimento é menor. A partir disso, se uma pessoa do interior consegue empreender, é mais factível que outras empreendam. E qualquer lugar é possível empreender, já que o empreendedorismo é um fenômeno de cidades, e quanto menor, melhor. Não pra fazer uma grande empresa de tecnologia ou uma fabricante de automóveis. Mas empreender não é só alta tecnologia. Uma comunidade pequena pode unir forças e criar um ambiente para acolher empreendedores com mais facilidade que uma mega cidade.
G1: Como se faria isso?
Dolabela: É um fenômeno de cidade. Se você olhar o Vale do Silício, nasceu em San Francisco [EUA]. Se você falar da Rota 128, nasceu em Boston [EUA]. O que é interessante [em investir], chama o prefeito e fala com ele. A cidade pequena é um lugar excelente para empreender. Você conhece a comunidade e as pessoas, você sabe onde está a força, você é capaz de mobilizar uma cidade. Desse tamanho [Varginha] ainda é possível, e isso é empreendedorismo, é capital social, é energia e interação entre as pessoas. O que eu falo em empreender é criar uma autonomia e sustentabilidade econômica.G1: A nossa sociedade e o nosso sistema de ensino, no geral, prepara pessoas empreendedoras? Quais são os erros?
Dolabela: Não, nós erramos desde que colocamos os meninos na escola. Aliás, desde que está no útero, porque a mãe é a maior inibidora do empreendedorismo, a mãe e a escola. As duas se juntam, dão as mãos e dizem: 'nós vamos estragar esse menino'. E estraga mesmo! O sonho da mãe é um bom casamento e um bom emprego público. E a escola faz de tudo para assassinar o potencial empreendedor da criança. Estimula a conformidade, ser igual, ausência de criatividade, quando essas características é que fazem o empreendedor. O sonho da professora é ter todos os alunos iguaizinhos. Sinto muito dizer isso, mas veja o que acontece no Brasil: a professora não é modelo para os alunos, morreu, acabou, não se fala mais nada!

Você vai no Japão o professor está lá em cima na escala social, nos Estados Unidos eles pegam os melhores alunos de grandes universidades e colocam eles dois anos em escolas primárias e depois eles vão para um grande emprego. Isso para que aquelas crianças, pelo menos por dois anos, tenham contato com a nata da juventude americana. O professor é fundamental, é ele que prepara a gente. Não quero entrar na questão de se a culpa é do professor, não acho que seja dele, mas as coisas estão erradas. E não é só o Brasil não. No geral, os países latinos perdem para os anglo-saxônicos quando se fala de empreendedorismo.
G1: O sonho é o que segura o empreendedor quando as coisas dão errado?
Dolabela: O sonho é o que segura o ser humano. Ninguém destrói sonhos. Com um tiro você mata a pessoa, mas não mata o sonho. É a única coisa de relevante que move as pessoas. Uma pessoa sem sonhos perdeu a vida. Isso é o que devia ser ensinado na escola. O sonho é o que há de mais relevante, e as pessoas que conseguem fazer isso, elas mudam o mundo. É tão simples! Eu nem inventei isso [risos].
FONTE:
G1