Caro visitante,

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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

GESTÃO DE CONFLITOS EM SALA DE AULA

A gestão de conflitos nas salas de aula: Contributo para uma reflexão


Rui Trindade (Revista Aprendizagem, 2ª edição.)

Creio que a valorização dos conflitos, numa sala de aula, como objeto de preocupação dos professores, tem tanto a ver com o mal-estar que esses conflitos suscitam, como com as leituras que se vão construindo acerca dos mesmos, sobretudo quando estas tendem a perpetuar um conjunto de equívocos que aprisionam os docentes num mundo sem soluções.

Um desses equívocos se expressa através de leituras descontextualizadas, indiferenciadas e, quantas vezes, circunscritas de tais conflitos. Respostas que, por exemplo, ao entenderem os alunos como os únicos responsáveis pela eclosão desses conflitos, não são capazes nem de problematizar a qualidade e a adequabilidade dos desafios e das exigências pedagógicas a que esses alunos são submetidos, nem tampouco a qualidade dos apoios ou das regras do funcionamento das salas de aula.

Daí que seja necessário perguntar: é possível abordar os conflitos nestes espaços como um fenômeno linear e homogêneo?

João Amado (2000) num estudo produzido acerca das manifestações de indisciplina em escolas portuguesas, constata que os conflitos são de natureza diversa, quer quanto às suas causas, quer quanto ao modo como se afirmam, quer quanto às respostas que seria necessário implementar. Assim, considera que existem três níveis de indisciplina: um primeiro que se exprime através da perturbação do bom funcionamento da sala de aula, um segundo que diz respeito à conflitualidade interpares e um terceiro que se afirma pela existência de confrontos entre alunos e professores que, assumindo formas distintas, põem em causa a dignidade pessoal e profissional dos segundos. Trata-se de conflitos distintos que obrigam a respostas também distintas, seja no tipo de ações que se propõe, seja em sua amplitude, seja em termos das responsabilidades daqueles que as protagonizam.

Importa abordar, por isso, os conflitos na sala de aula através de leituras mais precisas tanto acerca das suas manifestações concretas, como acerca dos motivos que as poderão explicar, de forma a promover interpretações e respostas educativas suficientemente pertinentes. Importa abordar também esse tipo de conflito como um desafio que obriga os professores a problematizar os objetivos, as modalidades de organização e as modalidades de gestão do processo de ensino-aprendizagem, bem como os tipos de relacionamento que, neste âmbito, se estabelecem entre todos os envolvidos neste processo.

De acordo com estes pressupostos, pode afirmar-se que as respostas que os professores poderão accionar poderão ser direccionadas para dois alvos: (a) respostas preventivas relacionadas especificamente com a gestão do processo de ensino-aprendizagem; (b) respostas preventivas e remediativas relacionadas especificamente com a gestão dos comportamentos dos alunos.

No primeiro tipo de respostas, pretende-se que os professores repensem não só o modo de conceber o planejamento e a organização das atividades letivas, como também o modo de promover o processo de mediação pedagógica. Devem refletir, por exemplo, se abusam da utilização do método expositivo, se as suas aulas são monótonas e repetitivas, se o seu discurso oscila entre temas diversos e sem qualquer conexão lógica entre si, se as atividades que propõem são entendidas pelos alunos ou se têm em conta as suas dificuldades e, finalmente, se o apoio que lhes disponibilizam é o mais adequado.

Por sua vez, as respostas que se focalizam na gestão dos comportamentos obrigam os professores a repensar qual o estatuto das regras na sala de aula, como é que estas se constroem ou como é que são utilizadas como instrumento de hetero e de auto-regulação desses comportamentos. São respostas que devem conduzir os professores a refletir sobre o modo como se organizam para identificar os comportamentos perturbadores mais frequentes, para seleccionar aqueles que serão alvo de intervenção ou para refletir sobre as causas que poderão explicar a sua ocorrência,. Só a partir desta análise é que se tem a possibilidade de promover ações bem sucedidas no domínio da gestão dos comportamentos disruptivos.